Como se livrar das últimas áreas naturais de Floresta com Araucária que ainda restam no Paraná?

Transporte de toras de araucárias na Rod-SC302 em Caçador - SC

Se depender da determinação de alguns representantes da Assembleia Legislativa do Paraná e das atuais figuras que ocupam cargos mais altos nos órgãos ambientais no Estado, podemos considerar que o pouco que restou de Floresta com Araucária ainda bem conservada no Brasil está com os dias contados. Justamente aquelas áreas que ainda guardam alguma representatividade da rica biodiversidade dessa formação florestal do Bioma Mata Atlântica está na mira desse pessoal, sem dó nem piedade.

Os únicos dados consistentes sobre a situação desses remanescentes foram aportados em 2001, na publicação do Atlas a Floresta com Araucária no Paraná, produzido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pela Fundação de Estudos Florestais, ligada à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Naquela época, apenas 0,8% da área original de distribuição dessa floresta exuberante e única restavam no estágio avançado de regeneração, o que significa que, embora não represente mais a floresta primária, ainda tem uma constituição em termos de biodiversidade próxima disso.

Ocorre que essa porcentagem representa cerca de 60 mil hectares, situados em pequenos fragmentos e na maioria dos casos fora de áreas destinadas oficialmente à conservação, como os parques públicos ou as reservas privadas. De lá para cá, o Paraná continuou sua saga de exploração, embora de forma muito diferente de décadas passadas. Ainda em meados do século passado, o intenso extrativismo era destinado à exportação, numa quantidade impressionante de madeira retirada para a abertura de áreas para a agricultura preponderantemente.

Nem a tentativa de regulamentação do extrativismo com o advento, na década de 1960, do Novo Código Florestal Brasileiro e da figura dos “Planos de Manejo Florestal”, permitiu uma forma minimamente adequada de exploração, uma vez que as áreas exploradas em boa parte seguiam tendo um destino de destruição completa para a instalação de culturas agrícolas e pastagens e, mais recentemente, os reflorestamentos com pinus e eucaliptos, bem conhecidos dos paranaenses.

Mas a história de exploração irracional e a chegada de uma situação absolutamente crítica para esse ecossistema tão típico de nossa terra não são suficientes para mudar a sina dos que não querem permitir que essas últimas áreas sejam destinadas à proteção efetiva de sua biodiversidade. A perspectiva estimulada sistematicamente é de que as leis de proteção atrapalham, sendo que o caminho a seguir seria avançar sobre áreas remanescentes e “explorá-las de forma sustentável”, palavras que no linguajar parlamentar paranaense querem dizer, “sem quaisquer formas de controle”, como sempre tem sido.

Para o noviço deputado Emerson Bacil (PSL), da região de São Mateus do Sul, permitir o corte das araucárias em áreas naturais nativas é a única possibilidade de sobrevivência para os proprietários privados, que hoje consideram as florestas nativas uma área sem valor agregado, um prejuízo econômico que faz da araucária uma espécie maldita. Mas suas intenções não param por aí. As áreas de floresta em estágio avançado também são indesejáveis, pois “não produzem nada”. Assim, segundo esse deputado (eleito com apenas 17 mil votos), empobrecer essas últimas florestas em extinção e suprimir sua biodiversidade, seria de “altíssimo interesse” dos produtores de erva-mate. 

Mesmo em meio à fenômenos climáticos cada vez mais frequentes e de maior intensidade, como o ciclone bomba e a grande seca que nos aflige, o deputado e seus apoiadores vão contra a ciência e ignoram os serviços ecossistêmicos prestados pela natureza (como a polinização) e seu produto de ponta mais famoso: a água.

Nossos remanescentes naturais localizados no planalto se resumem a poucos fragmentos e, na maioria dos casos, bastante degradados. Já se passaram muitos anos desde que se tornou prioritário o estabelecimento de políticas públicas que estabeleçam uma agenda para a proteção estimulada de nossas últimas áreas de Floresta com Araucária e dos Campos de Altitude, cabe enfatizar. 

Mas a retórica ultrapassada do “metro cúbico de madeira” continua sendo a única expectativa, mesmo em se tratando de área ínfimas em termos de madeira potencialmente explorável e de valor econômico insignificante. Concomitantemente, a espoliação de remanescentes ainda bem conservados vem se transformando em ervais pobres e raleados, sem qualquer proximidade com a biodiversidade das áreas íntegras.

Existem diversos exemplos de ferramentas que estabelecem agendas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSAs) com ampla variedade de possibilidades para remunerar a boa conservação. Além disso há mecanismos de compensação de Reserva Legal, aplicável aos que não detém a porcentagem suficiente em suas propriedades, podendo remunerar outro proprietário pela existência de uma área excedente. Há também grandes oportunidades de arranjos de parceria com empresas privadas que já percebem a importância de incluir a conservação da natureza como parte de seus negócios, evitando, com isso, o estabelecimento de agendas negativas e que colocam em risco suas atividades.

Mas Governos irresponsáveis, acadêmicos oportunistas e políticos retrógrados, fazem uma tríade e tanto. Eles se retroalimentam manipulando a opinião pública com teses criminosas de exploração à exaustão de nossas últimas áreas preservadas. Cedo ou tarde, a onda verde que varre o mundo desenvolvido há de chegar na “ex-terra dos pinheirais”. E ela não tardará. Esperamos que as próximas gerações de eleitores, antenadas à catástrofe ambiental local e mundial, aposentem para sempre estes péssimos políticos que poderão ser lembrados por eles, como os ecocidas das últimas araucárias.

Artigo escrito pela Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA). 

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